As Dores do Mundo, por Yel Luzbel

Encontrava-me pensativa sobre as dores que afligia as pessoas e o mundo. Me sentia perturbada ao imaginar que a dor e o sofrimento imperavam no modo humano de viver. Tentava imaginar o que se passava com aqueles que estavam neste exato momento, sendo afligidos por dores físicas, emocionais ou mentais. Era tão aterrador que não conseguia fixar minha atenção nesta sensação nem por alguns segundos! Minha mente reagia repelindo tais pensamentos e meu corpo tentava neutralizar todas as sensações advindas da tentativa em apenas imaginar como estavam aqueles que, neste exato momento da minha reflexão, pareciam de algum tipo de sofrimento! 

Fiquei em um estado físico e emocional péssimo. Para poder me recuperar das sensações que meu corpo produziu, precisei imaginar o contrário: que a vida era boa e pacífica para todos que existiam neste mundo e em outros que porventura poderia existir neste universo. Devo admitir que foi emocionalmente difícil pensar sobre isso! Não é possível entrar em sintonia com estes pensamentos e sentimentos e sair ilesa do processo. 

Ao imaginar que os nossos “espíritos” escolheram aqui estar e servir ao propósito de se limpar das sujeiras que foram anexadas em nossos corpos ao nascermos. Cheguei a conclusão do quanto é complicado compreender que,  para que pudéssemos nos limpar destas sujeiras e conseguirmos evoluir, temos de igualmente “aceitar” que o peso desta decisão recairá, literalmente, sobre ombros do nosso “ego humano”.

Ao partirmos do princípio de que esta decisão não foi tomada por nós, “egos humanos”, que sequer fomos consultados se aceitávamos existir nesta condição, temos de pelo menos admitir que, enquanto “consciência Humana encarnada” teremos de arcar e administrar o peso desta decisão. Aceitar de forma pacífica tudo o que vem no pacote da nossa programação encarnatória não é algo simples. Entretanto, existe em nós o desejo de acreditar ou de confiar que os nossos espíritos sabem mais do que nós, meros egos mortais. 

Contudo, algo muito importante escapa aos nossos espíritos: estar na carne, para uma grande maioria dos humanos, é demasiado doloroso! Parece-me que certas opções que fazemos no plano espiritual, quando estamos vivendo aqui na terra, tornam-se pesadas e aflitivas para a nossa sensibilidade! Tenho a convicção que é necessário seguir adiante, que é preciso realizar o processo de crescimento e evolução que cabe a cada um de nós. É imprecendível seguir adiante apesar de tudo! Não podemos simplesmente repudiar toda a existência material já que nós enquanto seres humanos desenvolvemos algo maravilhoso chamado amor e dignidade.

Todavia, reflito se agir de forma tranquila e resignada no que diz respeito a esta questão é um indicativo de evolução pessoal e espiritual. Penso que sim, que apesar de toda dor e sofrimento que existem em todas as partes do mundo, seguir adiante  é um imperativo para a nossa evolução espiritual. 

Ao lançar para o meu espírito estes questionamentos, Yel Luzbel, veio ao meu encontro e me disse o seguinte:

“O sentimento que tu sentes, eu, um dia já senti. Entretanto, numa intensidade tal,que se você tivesse acesso ao desalento que me assolou naquele momento, você agora estaria feliz. Acredite-me! Consigo perceber o que se passa dentro de ti. Sinto o que tu sentes. Penso o que tu pensas. Sei que é duro, porém, te recordo que mais difícil foi para mim quando tudo que passei  em Capela, meu corpo não possuía as condições necessárias e liberdade ou elementos para expressar em forma de pensamentos, as sensações que eu sentia. Venho a ti neste momento para dizer-te simplesmente que nesta vida, não nos cabe sonhar com algo que nunca teremos: a liberdade de simplesmente ser. Aqui não é possível. Entende? Sabes por qual motivo? Porque neste mundo criado por Javé, somos peças de um xadrez que alguém conduz para que se alcance determinado objetivo. Portanto, somos ferramentas e não importa o sofrimento que possamos nos deparar, teremos que, inevitavelmente,  continuar existindo, queiramos ou não! Tudo que importa é que consigamos fazer o que nos foi designado efetivar nesta vida! Se vamos sofrer, não importa. Temos de seguir adiante, não temos alternativa! Nada podemos fazer. Somos seres que servem para determinado fim e não podemos fugir disso”.

Ao escutar de Yel Luzbel tal declaração, minha mente e meu corpo foram tomados por uma onda de choque e terror. Imediatamente, questionei-o se as suas palavras eram para me confortar ou para me deixar mais aflita e desesperançada! Ele, percebendo minha tristeza, continuou me explicando:

“Contudo, mesmo que constatemos que estamos submetidos a tirania de outros que tentam nos dominar a todo o custo, atualmente, consigo perceber que, apesar de termos sidos obrigados, em várias situações lá em Capela, a agir de forma agressiva, devo esclarecer que no princípio, as nossas motivações iniciais eram baseadas em pensar que estávamos lutando contra algo ou alguém que havia nos obrigados a viver uma realidade que se apresentava caótica e sem sentido! Todavia, depois de participar da rebelião que ficou conhecida entre os humanos como “a Revolta dos Anjos Decaídos”, aprendi que o que pode nos tornar seres que agem melhor que os seus criadores é compreender que a violência física, mental ou emocional que possamos efetivar, não é algo que servirá para melhorar esta criação ou para nos tornar seres melhores! Agora compreendo isso! Entretanto, não é necessário dizer que precisamos ser ousados e fortes para existir neste universo. Podemos constatar facilmente que a dor e o sofrimento imperam aqui na Terra e alhures por todo este enorme universo! Afirmo que tudo acontece assim porque não temos opção, porque temos de nos submeter a este processo existencial que nos foi imposto. Contudo, mesmo que soframos, muito será  pedido daqueles que podem realizar algo. Daqueles que nada podem ou nada querem realizar, a estes, os prazeres do mundo material será a sua recompensa. Quanto a isso, nada poderá ser feito. Precisamos, impreterivelmente, nos libertar das ilusões que movem o  nosso existir. É imperioso que ultrapassemos tudo o que sentimos ou possamos sofrer, para que no final, o que possa sobrar seja  um “eu ” que existirá livre das necessidades desta criação imperfeita. É isso”. 

Escutei a sua explanação e pensei comigo mesmo: não há como fugir da realidade que vivenciamos. Queiramos ou não, temos de seguir em frente e efetivar o melhor projeto que podemos realizar  – tornar esta existência digna para todos os seres que existem neste universo. Temos de tentar a todo o custo pacificar as nossas ações e emoções, tornando mais suave a nossa vida e a dos nossos companheiros de jornada.  Precisamos tentar, apesar dos erros, das dificuldades, das dores e das alegrias que nos deparamos no nosso caminho, agir como um “Deus” agiria se aqui estivesse encarnado. Não existe outra forma de dignificar a vida humana sem que ofertemos a este mundo o que existe de mais valioso em nossos corações – a compaixão e o amor que podemos sentir uns pelos outros.

O bem que existe em mim e em cada um, será a nossa maior recompensa. Que ele possa se expressar no mundo através de mim e de todos nós. Que assim seja.

Jeane Miranda

Autora

Jeane Miranda

Desbrave os textos autorais da escritora Jeane Miranda, conteúdos ricos e altamente valorosos.

2º Congresso Espírita Mundial - Lisboa - 1998